MARINHA DE GUERRA
Embora os egípcios
já possuíssem barcos ou esquadras de finalidades bélicas por volta de 3000
a.C., só a partir das grandes navegações, e da revolução comercial, as
potências marítimas passaram a separar suas frotas mercante e militar, para dar
a esta meios próprios e funções estratégicas.
Marinha de guerra
é a força armada e instituição composta pelos oficiais e praças, embarcações,
estabelecimentos e material bélico empregados por uma nação para defender-se e
exercer seu poder nas águas dos mares e dos rios. O conjunto de navios
subordinados à marinha de guerra chama-se armada. As instalações da marinha de
guerra em terra firme não são menos importantes que seu patrimônio marítimo ou
fluvial: são bases de apoio logístico, ensino, instrução, planejamento e
pesquisa, centros de produção industrial ou de comunicações e quartéis de
unidades especiais, como os de fuzileiros e homens-rãs.
A importância da
marinha de guerra nas disputas internacionais é claramente exemplificada pela
hegemonia britânica exercida mais ou menos da metade do século XVIII até o auge
de sua expansão colonialista, na segunda guerra mundial, período ao longo do
qual desenvolveu sua marinha de guerra até torná-la a mais poderosa do mundo.
Do fim da Idade Média até o começo dos tempos modernos, Portugal, Espanha,
Países Baixos, França e Reino Unido sucederam-se na descoberta e colonização de
novas terras graças ao poder marítimo, então efetivamente primordial.
Navio de uma esquadra européia
Evolução
das embarcações
Os primeiros
navios especialmente construídos para combate foram as galés ou galeras gregas,
a partir do século VIII a.C.
Em Salamina, em
480 a.C., esses barcos, já com cerca de quarenta metros e 200 remadores,
bateram a armada persa.
O Império Romano
não fez qualquer progresso substancial em relação a esse tipo de embarcação. Só
o tornou maior e mais pesado, com até 1.800 remadores mas, ainda assim,
enfrentou com dificuldade as quadrirremes e qüinqüerremes cartaginesas.
Na Idade Média, os
principais barcos de guerra foram a dromunda, birreme de vela triangular usada
pelo império bizantino e, depois, pelos sarracenos em geral, e o dracar
viquingue, mais leve e esguio, de vela quadrada e esporão metálico em cabeça de
dragão.
O primeiro canhão
a bordo apareceu em meados do século XIII, pouco depois de se inventar o timão
de popa e de se acrescentar um ou dois mastros aos barcos. As caravelas de
Vasco da Gama (ainda no fim do século XV) já contavam com o uso da pólvora e
com bombardas eficientes para seu tempo.
Do século XVI ao
XIX, com o aperfeiçoamento dos grandes veleiros, a marinha fez progressos cada
vez mais expressivos, sobretudo no que concerne à artilharia.
Os canhões de
bronze fundido, inicialmente pouco numerosos nas carracas, eram já 186 no Henri
Grâce à Dieu, do soberano inglês Henrique IV, e mais de 200 em alguns galeões
do século XVII. Daí em diante, em brigues, corvetas e fragatas, seu poderio
multiplicou-se.
Na metade do
século XIX, com quase cem anos de revolução industrial, outra revolução foi a
substituição das velas pelos motores a vapor, e da madeira pelo ferro na
construção dos cascos. Os canhões passaram por enormes progressos e aumentaram
cada vez mais em tamanho, calibre e quantidade. Por volta de 1890, a marinha de
guerra deu outro enorme passo tecnológico, com o advento dos submarinos e dos
torpedos. Quando principiou a primeira guerra mundial, o submarino tornara-se,
com razão, a mais temível das armas com que uma armada podia contar.
Dessa fase em
diante, embora cada vez mais especializadas e sob contínuo aperfeiçoamento, as
embarcações mantiveram-se dentro de um padrão de tipologia relativamente
estável. Ao salto qualitativo dos torpedos, acrescentaram-se as minas, a
propulsão a óleo (de transporte muito mais fácil do que o carvão para as
máquinas a vapor), os canhões carregados pela culatra e de tiro rápido, a
blindagem de aço, a disposição do armamento em torres gêmeas e giratórias, os
tubos de lança-torpedos (a partir do couraçado inglês Dreadnought, em 1905) e,
na transição para a segunda guerra mundial, os canhões e metralhadoras
anti-aéreas, estas logo duplas, mais tarde quádruplas e de crescente velocidade
de tiro.
Quando iniciou-se
a segunda guerra mundial, o encouraçado já tinha uma história de quase um
século. Desde o início do emprego do ferro no revestimento dos cascos,
procurara-se fazer da nau capitânia de cada esquadra uma fortaleza flutuante.
Na guerra de secessão americana, entre 1861 e 1865, já se usaram encouraçados.
Estes, no fim do século XIX, já possuíam couraça de 46cm e canhões com 33cm de
calibre. O sistema repercutiu em todas as marinhas e o encouraçado atingiu seu
apogeu. Confundiu-se, em seguida, com os cruzadores pesados. Os maiores
encouraçados foram alemães, ingleses, americanos e sobretudo japoneses (os dois
da classe Yamato deslocavam 72.000t, com nove canhões principais de 18
polegadas de calibre, isto é, 45cm).
Por volta de 1944
os encouraçados e cruzadores pesados cederam o lugar de força naval mais
ofensiva aos porta-aviões, navios-aeródromos que passaram, com freqüência, a
ser as naus capitânias das maiores esquadras. O primeiro deles, o inglês
Hermes, deslocava 10.800 toneladas e levava vinte aviões. No final da guerra,
os americanos estavam na dianteira e mais tarde passaram a investir nesse tipo
de navio uma das maiores parcelas de seu orçamento militar: os modelos mais
avançados (classe Nimitz), movidos a energia nuclear, ultrapassavam oitenta mil
toneladas e levavam cem aviões supersônicos.
Na segunda metade
do século XX, duas outras mudanças excepcionais multiplicaram o poder de fogo
das marinhas de guerra: o submarino nuclear e os mísseis teleguiados, de
numerosas especificações e finalidades. O primeiro revolucionou completamente o
raio de ação dos submersíveis. O segundo revolucionou o sentido, o alcance e a
precisão da artilharia naval. Sua modalidade mais terrível, a dos balísticos de
ogivas atômicas lançados pelos "silos" de submarinos nucleares
imersos, continua a ser uma das mais poderosas armas inventadas pelo homem.
Além dos
submarinos, porta-aviões e cruzadores, as marinhas modernas compreendem também
contratorpedeiros, fragatas e corvetas (no século XX, navios de porte menor que
o do contratorpedeiro e destinados principalmente à luta anti-submarina, às
patrulhas e escoltas), navios-mineiros ou caça-minas, lanchas-torpedeiras,
navios-monitores e anfíbios (para desembarque de tropas, viaturas e armamento),
inclusive os hovercrafts, sobre colchão de ar.
Com o tempo, a
classificação geral dos vasos de guerra teve de usar distinções mais complexas.
Incluiu-se a categoria dos porta-helicópteros, que começaram a ser construídos
na década de 1960, e separaram-se os submarinos e porta-aviões nucleares dos
convencionais, assim como os cruzadores de combate (com mais de vinte mil
toneladas) dos ligeiros (entre vinte mil e sete mil toneladas).
Somam-se, ainda,
os navios-auxiliares, entre os quais os navios-tanques, os navios-hospitais, os
de transporte de tropas, transporte de munições e de provisões, os
navios-oficina, rebocadores etc., que têm a tarefa de estabelecer a ligação
entre as bases e as zonas de combate e outras operações de guerra. Por fim, no
total da marinha de guerra, contam-se as embarcações utilizadas para serviço
local, nas bases navais -- barcaças, batelões de combustível, água ou carga,
oficinas e guindastes flutuantes.
Nos progressos da
marinha de guerra ao longo do século XX, devem-se lembrar como fatores
fundamentais os incontáveis inventos e inovações de toda ordem que alteraram a
face da ciência e da tecnologia em geral, desde o sonar da década de 1920, e do
radar da de 1940, aos satélites artificiais de comunicação ou de meteorologia,
à adoção da televisão, dos computadores e muitos outros recursos da eletrônica
para conferir maior precisão às operações navais.
Tais meios, que se
multiplicaram em grande velocidade, alteraram a concepção e a própria imagem de
alguns dos tipos de navios mais conhecidos: os cruzadores armados com canhões
passaram a ser cada vez mais substituídos por embarcações mais leves (às vezes,
com menos de sete mil toneladas) e capazes de lançar diversas categorias de
mísseis mar-terra, mar-mar ou mar-ar (isto é, anti aéreos), com mecanismos de
direção, detecção e identificação extremamente acurados. Experimentaram-se
novos materiais na construção dos navios, acrescentando-se ao aço o alumínio, o
titânio e a fibra de vidro, especialmente no caso dos contratorpedeiros,
fragatas e corvetas.
Paralelamente,
aumentaram as dimensões e as possibilidades das barcaças de desembarque, aptas
a deslocar quatro ou cinco centenas de homens (ou seja, o equivalente a um
batalhão completo), carros de combate e helicópteros especiais -- que, em casos
de ação mais rápida, podem transportar a tropa por ar, até o objetivo na terra.
Porta-aviões escoltado por dois
destróieres
A criação da bomba
atômica levou a outra reavaliação da participação do poder marítimo nas
guerras. Uma guerra nuclear pode ser tão curta que deixe de lado a marinha. Há,
porém, quem argumente que a ação da marinha poderá ser importante, mesmo numa
guerra atômica, se a marinha de guerra dispuser de navios equipados com mísseis
e foguetes com ogivas atômicas. Em todo caso, além disso, as guerras da Coréia
e do Vietnam, depois a rápida guerra do Golfo, demonstraram que o poder
marítimo continua a ter participação decisiva nos conflitos parciais.
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