AS ARMAS NUCLEARES
No dia 5 de agosto de 1945 o presidente dos Estados
Unidos, Harry S. Truman, ordenou que se desencadeasse o processo de lançamento
da primeira bomba atômica. No dia seguinte uma bomba com vinte quilotons de potência
caía sobre a cidade japonesa de Hiroxima. Um minuto e meio depois do lançamento
formou-se uma bola de fogo a uma altura de 570m, que alcançou uma temperatura
de 300.000o C. Morreram aproximadamente 240.000 pessoas. Era o ensaio da guerra
atômica.
Bomba atômica lançada sobre Hiroxima
Armas nucleares são as que utilizam os efeitos
provocados pelas reações registradas no interior do núcleo atômico. Fazem parte
do chamado trinômio NBQ (nucleares, biológicas, químicas), de destruição
maciça.
Fundamentos das armas nucleares. O conjunto de
elementos que ocupam os últimos lugares do sistema periódico apresenta a
tendência natural de emitir radiações ou partículas. Essa radioatividade
natural é própria do grupo dos actinídeos, de que fazem parte os isótopos 235 e
238 do urânio, o plutônio e o tório.
A radioatividade natural produz a
desintegração dos núcleos atômicos, que sucessivamente se transformam em outros
pela perda de massa e chegam a formar séries em que cada elemento procede do
anterior. A cada vez que se registra uma desintegração ocorre emissão de
partículas e radiações, liberando-se grande quantidade de energia em forma de
calor. Ao final do processo, que pode durar milhares de anos, os corpos
convertem-se em chumbo estável. Na radioatividade artificial, provoca-se o
processo de desintegração pelo bombardeio dos elementos com partículas
adequadas, de modo a liberar energia.
Os elementos leves que ocupam os primeiros
lugares da tabela periódica, como o hidrogênio ou o lítio, apresentam a
propriedade oposta. Quando seus átomos são bombardeados, podem chegar a unir-se
depois de entrarem em colisão, para formar um núcleo que é a soma dos
anteriores. A massa perdida transforma-se em energia, liberada em forma de
calor, com emissão de prótons e nêutrons.
Ambos os fenômenos, a fissão e a fusão de
núcleo, constituem a base teórica para o desenvolvimento das armas nucleares.
Uma explosão nuclear produz reações de fusão
ou fissão, liberando instantaneamente grande quantidade de energia mecânica,
térmica e de partículas ou radiações. Os elementos mais utilizados na fissão
são o urânio 235 e o plutônio 239. Quando esses elementos são bombardeados com
nêutrons, alguns de seus núcleos instáveis se cindem, emitem novos nêutrons e
liberam energia. O processo, repetido sucessivas vezes, denomina-se reação em
cadeia e, para consegui-lo, precisa-se de uma massa crítica ou mínima de
elemento físsil. Na fusão nuclear, a liberação de energia produz-se depois da
união de núcleos e tem uma potência cerca de sete vezes superior à fissão.
Visto que se obtêm temperaturas de ordem astronômica, próximas das que se
registram nas reações estelares, o processo denomina-se termonuclear.
Os produtos que se desprendem numa explosão
nuclear são partículas e radiações, distribuindo-se nas categorias enumeradas a
seguir.
Partículas alfa:
possuem a estrutura dos núcleos de hélio. Trata-se de partículas relativamente
lentas em seus deslocamentos (cinco por cento da velocidade da luz), com
tamanho e carga elétrica relativamente elevados. Têm pouca penetração no corpo
humano e seu maior perigo se acha no considerável poder de ionização, que
apresenta grave risco para o organismo, ao converter, por exemplo, os átomos do
ar em íons.
Partículas beta:
são elétrons que se movem a grande velocidade (próxima à da luz), muito
pequenas e com capacidade de penetração média. São detidas pelo plástico, pelo
alumínio e pelo aço.
Radiações gama:
são radiações de natureza eletromagnética que se deslocam à velocidade da luz.
Têm grande capacidade de penetração e produzem ionização. As radiações gama
atravessam o vidro e até mesmo chapas de aço de vários centímetros de
espessura. No entanto, detêm-se diante do chumbo e do concreto. Seus efeitos no
organismo humano são graves e podem manifestar-se a longo prazo.
Nêutrons: são
partículas nucleares eletricamente neutras e emitidas a baixa velocidade (dez
por cento da velocidade da luz) tanto em fissão como em fusão. Sua penetração é
muito grande porque elas têm massa e são destituídas de carga. Os efeitos que provocam
são muito graves.
Tipos de
armas nucleares
A bomba atômica de fissão é uma arma que
provoca uma imediata reação em cadeia. Constituem o material físsil o urânio e
o plutônio, elementos que apresentam determinados valores de massa crítica que,
no entanto, se encontram divididos em massas subcríticas antes da explosão. É
necessário, portanto, dispor de um procedimento de união das massas
subcríticas, que inicialmente estarão separadas por placas de chumbo e cádmio,
de uma fonte de nêutrons e de um moderador, e de um refletor de nêutrons à base
de zircônio, para assegurar que a massa se fissione.
A bomba atômica de fusão, de hidrogênio ou
termonuclear também se conhece como bomba H. Seus componentes básicos são: o
material físsil, constituído à base de um isótopo de hidrogênio; um elemento
capaz de produzir temperatura de milhões de graus, que pode ser uma bomba
atômica, em um catalisador (de partículas) ou lasers; e um elemento
multiplicador de energia, como é outra bomba atômica, que se ativa com nêutrons
liberados na fusão.
A bomba de nêutrons é um engenho de fusão em
que se reduzem os efeitos mecânico e térmico ao máximo possível, para obter-se
o maior efeito radioativo dos nêutrons. Essa bomba, por isso, recebeu o
qualificativo de "limpa", uma vez que produz baixas humanas sem
danificar o material bélico, que pode ser reaproveitado pelo atacante.
Efeitos das armas nucleares. Ao produzir-se no
ar a explosão nuclear, forma-se uma bola de fogo cujo centro situado no ponto
de explosão e raio é variável. Esse primeiro fenômeno dura um décimo de segundo
por megatons de energia (unidade equivalente a um milhão de toneladas de
explosivo químico de grande potência). Sua conseqüência imediata sobre o
organismo é a perda da visão.
Os efeitos mecânicos ocorrem como reflexo
aproximado da metade da energia liberada. Cerca de três segundos depois da
explosão, verifica-se enorme rajada de gases que dá origem a várias ondas. A
primeira é a onda de choque, cuja pressão, registrada a 300m do centro da
explosão, é da ordem de dez toneladas por centímetro quadrado. Em seguida se
desloca uma onda de sucção de menor potência que a anterior e de sentido
oposto. Depois avança a onda refletida, que provém do impacto da primeira
contra o solo e, por último, registra-se a onda reforçada, soma da onda de
choque com a refletida. Todas elas produzem esmagamentos, derrubada de
edifícios e destruição das estruturas mais resistentes.
A bola de fogo libera energia calorífera até
cerca de três segundos depois da explosão, em quantidade que alcança trinta por
cento do total. A temperatura da bola chega a vários milhões de graus e as
radiações térmicas produzem-se por impulsos, ultravioleta e infravermelho. As
conseqüências térmicas consistem em incêndios, queimaduras, carbonizações etc.
Os efeitos radioativos, finalmente, são os que
se mantêm com maior persistência depois da explosão. Registra-se uma radiação
instantânea de nêutrons, partículas alfa, beta e raios gama; outra, também
instantânea, induzida pelos componentes terrestres convertidos em
radioatividade; e a chamada chuva radioativa, que dura várias horas e é
produzida pela nuvem de resíduos. A radioatividade residual pode prolongar-se
por semanas ou meses.
Perfil geo-estratégico. A diferença no grau de
evolução da pesquisa nuclear nos diversos países fez com que só alguns deles
disponham de armas nucleares em seus arsenais.
O desenvolvimento desse tipo de armamento
iniciou-se nos Estados Unidos e imediatamente depois começou na então União
Soviética. Foram essas duas potências que dominaram, desde suas primeiras
etapas, a pesquisa sobre a energia nuclear e as que dotaram suas forças armadas
de maior número de unidades nucleares. No final da década de 1980, também
dispunham de armas atômicas os exércitos da França, Reino Unido, República
Popular da China e Índia. Alguns outros estados também alcançaram nesse campo
um desenvolvimento tecnológico que adquiriu proporções muito próximas às dos
citados.