MARINHA MERCANTE
Desde as canoas
feitas com um tronco escavado até os navios a vapor, transcorreram milênios.
Nas últimas décadas do século XX, uma vasta quantidade de rotas comerciais unia
por mar todos os continentes e ilhas oceânicas.
Marinha mercante é
o conjunto de navios, portos, estabelecimentos e tripulações que permitem o
transporte marítimo de mercadorias e passageiros. Globalmente, o conceito
distingue-se do de marinha de guerra, conjunto de recursos navais, materiais e
humanos que têm por fim a defesa de um país e a manutenção da segurança do
comércio marítimo.
Evolução
histórica
Embora o comércio
de mercadorias por via marítima tenha sido praticado por quase todas as
civilizações da antiguidade, a marinha mercante como entidade autônoma começou
a ser criada na Idade Média, com a constituição das irmandades de frotas, como
a da Liga Hanseática, formada no século XIII por várias cidades bálticas, como
Lübeck, Hamburgo e Rostock.
O domínio árabe
medieval do meio marítimo deu lugar ao auge do comércio nas chamadas repúblicas
marítimas italianas: Veneza, Gênova, Pisa e Amalfi. O florescimento dessas
cidades-estados decorreu da manutenção de uma espécie de monopólio sobre o
comércio das mercadorias orientais -- corantes, tecidos de damasco,
especiarias, plantas medicinais etc. --, que constituíram uma das mais
apreciadas fontes de riqueza da época.
No século XVI, o
descobrimento do litoral africano, da América e do Brasil, e a criação de
muitas outras rotas comerciais, deslocaram o predomínio marítimo para as frotas
britânica, portuguesa, holandesa e espanhola. Aos poucos, as pequenas caravelas
cederam seu posto a grandes navios de três a quatro mastros, que permitiram
notável aumento do volume de mercadorias transportado.
Em tal contexto
nasceram, mais tarde, as primeiras grandes entidades comerciais marítimas, tais
como as companhias britânica e holandesa das Índias Orientais. Fundadas
respectivamente em 1600 e 1602, chegariam a alcançar uma importância decisiva
nos planos político, militar e financeiro. O progresso da construção naval
impôs inovações ao velame e à mastreação, até que, no século XIX, a introdução
do metal na indústria naval e a invenção da máquina a vapor revolucionou o
transporte marítimo de viajantes e mercadorias.
Desde que o
Clermont, de Robert Fulton realizou, em 1808, a primeira travessia a vapor,
sucederam-se avanços decisivos, como a propulsão mediante pás laterais, o uso
da hélice em lugar destas e a substituição do ferro pelo aço como material de
construção dos cascos. Já no século XX a diversificação de modelos e aplicações
generalizou-se e gerou a distinção de múltiplos tipos de barco.
Diferençaram-se,
assim, barcas, cargueiros, petroleiros, navios frigoríficos, quebra-gelos e
transatlânticos. Entre estes últimos, alguns chegaram a ser legendários por
suas dimensões e outros motivos. Tal foi o caso do Great Eastern, grande vapor
britânico com rodas e hélices lançado ao mar em 1858; o France, que alcançava
3.200 toneladas; o Lusitânia, que, já na década de 1900, praticamente
triplicava a tonelagem do anterior e foi torpedeado e afundado em 7 de maio de
1915, na primeira guerra mundial; e o Titanic, grande vapor de sessenta mil
toneladas que afundou na noite de 14 para 15 de abril de 1912, ao se chocar com
um iceberg, em catástrofe que comoveu o mundo.
Episódios como
este fizeram melhorar a segurança de outras grandes embarcações construídas
posteriormente, como o transatlântico francês Normandie, de 79.000 toneladas,
lançado ao mar em 1935, ou o Queen Elizabeth, três anos depois.
Na segunda metade
do século XX, o transporte de passageiros sofreu uma relativa regressão,
provocada especialmente pelo maior desenvolvimento da aviação comercial. Por
isso, a marinha mercante orientou suas perspectivas para o transporte de
mercadorias e especialmente para o do petróleo e seus derivados, uma vez que
constitui o meio mais adequado e menos dispendioso para carregar tais
substâncias. Também a energia nuclear, amplamente usada em submarinos,
porta-aviões e outros navios de guerra, alcançou o transporte marítimo em
embarcações como o cargueiro norte-americano Savannah ou os quebra-gelos russos
Lenin e Sibir.