Paralelamente à retomada de investimentos na pesquisa de jazidas petrolíferas, em 1973 o governo cria o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool, cujo objetivo é a substituição da gasolina usada como combustível pelos veículos automotivos por álcool etílico ou etanol.
Desde 1925, os brasileiros conheciam a possibilidade de utilização do álcool como combustível. Nessa época, porém, a gasolina era abundante, barata e consumida em pequena escala no Brasil, não havendo, assim, interesse no aperfeiçoamento das pesquisas do álcool como combustível.
No entanto, já na década de vinte, existiam no Brasil veículos movidos a combustível composto de 75% de álcool e 25% de éter. Durante a Segunda Guerra Mundial, o álcool ajudou o país a conviver com a escassez de gasolina; era misturado à gasolina ou utilizado isoladamente em motores convertidos para essa finalidade.
Entre 1977 e 1979, houve uma expansão da produção de álcool de cana-de-açúcar, que foi o vegetal escolhido para produzir álcool combustível aqui no Brasil. Os fatores que determinaram essa escolha foram a grande extensão territorial do país, o clima propício para a cultura da cana e o domínio da tecnologia da fabricação do álcool.
A implantação do Proálcool passou por duas fases distintas. A primeira visava produzir álcool com o objetivo de adicioná-lo à gasolina, propiciando a economia do petróleo importado (tabela). A Segunda fase visava produzir álcool suficiente para abastecer os veículos movidos a álcool hidratado, que passaram a ser produzidos em grande escala diante da queda nas vendas dos veículos a gasolina, provocada pelos aumentos de preço desse combustível.
Em um litro de gasolina vendido ao público estão presentes: |
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Ano |
Volume de álcool (L) |
Volume de gasolina (L) |
Porcentagem de álcool etílico presente na gasolina (%) |
1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 |
0,14 0,17 0,12 0,20 0,20 0,20 0,20 0,20 0,22 |
0,86 0,83 0,88 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80 0,78 |
14 17 12 20 20 20 20 20 22 |
Quantidade de álcool etílico adicionado à gasolina entre 1979 e 1987.
Por volta de 1978, com o aumento brutal do preço do combustível, a venda de veículos movidos a gasolina diminui significativamente. As pessoas passaram, então, a comprar veículos movidos a álcool, apesar de estes ainda trazerem problemas, como dificuldade de partida a frio e corrosão de peças e motor. Em 1980, devido aos problemas de manutenção que apresentavam, os veículos a álcool praticamente não eram mais comercializados. Além disso, nessa época circulava no país o boato de que a produção nacional de álcool combustível não seria suficiente para abastecer todos os veículos.
A partir de 1982, o governo investiu no sentido de aumentar as vendas. Criou facilidades aos compradores, como maior prazo de financiamento, taxas mais baratas e abastecimento de álcool aos sábados (os postos de abastecimento fechavam às sextas-feiras à noite e só reabriam às segundas-feiras de manhã).
Muitos investimentos foram feitos, ainda, no sentido de melhorar a qualidade do motor a álcool. Os veículos que o utilizavam como combustível passaram a ser dotados de sistema de partida a frio: gasolina é adicionada diretamente ao motor para facilitar a partida. Com o fim de evitar a corrosão, os carburadores são revestidos com zinco e os tanques de combustível com estanho.
Essas medidas apresentaram bons resultados, tanto que, atualmente, 88% dos veículos zero quilômetro comercializados são movidos a álcool.
Apesar do sucesso técnico do Proálcool, tem havido muitas críticas à sua implantação. Tais críticas baseiam-se no fato de que as áreas de cultivo de cana-de-açúcar aumentaram muito, enquanto as de cultivo de alimentos se mantiveram inalteradas. Além disso, como só têm trabalho durante metade do ano; na outra metade, permanecem ociosos, agravando os problemas sociais no campo.
Examinando-se as projeções efetuadas para o ano 2000, percebe-se a gravidade do problema das terras ocupadas com o plantio de cana-de-açúcar. Se for mantido o programa de incentivo, calcula-se que cerca de dez milhões de cana, não existindo nada que garanta um crescimento proporcional das áreas reservadas ao plantio de alimentos.
O sucesso total do Proálcool só é viável se compatível com uma política energética global e com uma política agrária e agrícola que considere todas as conseqüências do crescimento desse programa.
ÁREAS CULTIVÁVEIS
Quadro de áreas cultiváveis (em milhões de hectares) |
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Área total do território – Brasil ..................................................... 851,00 Área potencialmente cultivável – Brasil ....................................... 500,0 Área colhida – Brasil .................................................................... 52,3 |
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Área colhida – 1986 (milhões de hectares) |
Participação percentual |
Milho Soja Arroz Feijão Cana Trigo Algodão Café Mandioca Outras |
12,5 9,2 5,6 5,5 4,0 3,9 3,2 2,3 2,0 4,1 |
23,9 17,6 10,7 10,5 7,7 7,5 6,1 4,4 3,8 7,8 |
Fonte:
Levantamento Sistemático da Produção AgrícolaResultados Preliminares – Fevereiro/87 – Fundação IBGE
Proálcool (1975 / 1986) |
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Ano |
Produção de álcool (milhões de litros) |
Valor equivalente (milhões de dólares) |
1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 |
580,1 642,2 1.387,7 2.359,1 3.448,3 3.676,1 4.206,7 5.617,9 7.950,3 9.201,0 11.200,0 11.700,0 |
42,0 50,1 125,4 217,2 431,9 764,5 956,7 1.274,0 1.525,7 1.729,5 1.860,6 1.511,4 |
Fonte: Cenal – Produção de álcool no Brasil.