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[] Grid: uma nova
arquitetura para o processamento em Física de Altas Energias [E.M.
Gregores; S.F. Novaes]
Grid: Uma Nova Arquitetura para o
Processamento em Física de Altas Energias
E.M. Gregores; S.F. Novaes
Instituto de Física Teórica, UNESP, São
Paulo, SP
A World Wide Web,
originalmente desenvolvida pelos Físicos de Altas Energias do CERN, que
buscavam uma forma eficiente de compartilhar dados e informações entre
parceiros situados em diferentes países, abriu novos caminhos em
diversos setores da sociedade, permitindo o acesso fácil, eficiente e
barato a uma enorme variedade de informações distribuídas globalmente.
Agora a arquitetura Grid [1]
pretende fazer o mesmo com o processamento computacional. O Grid é um
sistema de processamento que utiliza recursos computacionais
geograficamente distribuídos. O acesso ao processamento computacional
confiável, consistente, globalmente distribuído e economicamente
atraente desencadeará uma nova revolução, talvez ainda maior do que
aquela advinda da popularização da Internet.
Os pesquisadores de
Física de Altas Energias vêm reconhecendo a impossibilidade de dar
prosseguimento ao trabalho de pesquisa sem o emprego de uma nova
abordagem de processamento e armazenamento de dados. A quantidade de
dados que serão obtidos com o acelerador de partículas Large Hadron
Collider do CERN, que entrará em operação em 2007, atingirá níveis até
recentemente inimagináveis. Na primeira década de operação, deverão ser
produzidos dados da ordem de 1 Exabyte, ou um bilhão de Gigabytes. Isto
é equivalente a 20% de toda a informação gerada no mundo em 2002, sob
qualquer forma.
Assim como a Física
Experimental de Altas Energias, outras áreas de pesquisa estão tendo que
enfrentar o mesmo desafio: lidar com colaborações globais onde pessoas e
recursos computacionais se encontram geograficamente distribuídos e, ao
mesmo tempo, tratar uma fantástica avalanche de dados produzidos pelos
experimentos. Assim, áreas como Astronomia, Bioinformática, Química
Combinatória, Ciências Ambientais e Medicina irão igualmente se
beneficiar dessa nova arquitetura computacional, a qual vem tendo um
enorme avanço nos últimos anos.
Uma Infra-Estrutura Global
O termo Grid,
cunhado em meados da década de 90 por Foster e Kesselman, foi inspirado
em outros tipos de redes, como as redes de distribuição elétrica (Power
Grids), redes ferroviárias (Railroad Grids) e redes
telefônicas (Telephone Grids), onde uma determinada
infra-estrutura ou serviço chega ao usuário final após ser distribuída
através de uma malha de grande capilaridade.
Os recursos
computacionais para tornar o Grid uma realidade já estão disponíveis,
quer seja sob a forma de grandes computadores contendo muitos
processadores, sob a forma de clusters computacionais ou mesmo através
da enorme quantidade de computadores pessoais espalhados pelo mundo.
Para isto, basta que eles venham a ser convenientemente integrados em
uma rede de processamento de alcance mundial.
A velocidade de um
processador está diretamente relacionada ao seu número de transistores.
Em 1965 Moore, co-fundador da Intel, observou que o número de
transistores contidos nos processadores vinha dobrando a cada 18 meses.
Apesar de a capacidade de processamento vir aumentando sistematicamente,
tem-se tornado cada vez mais difícil manter esse mesmo ritmo de evolução.
No entanto, um crescimento ainda mais acentuado tem ocorrido em outras
áreas da tecnologia da informação. A chamada lei de Gilder sugere que o
crescimento da bandwidth, ou velocidade de transmissão, é pelo menos 3
vezes mais rápido que o do poder computacional. Hoje em dia, a
quantidade de informação que se pode transmitir em 1 segundo, através de
um único cabo, é maior do que aquela transmitida durante um mês inteiro,
por toda a internet, em 1997.
Apesar de a idéia de
Grid não ser nova, apenas agora os desenvolvimentos tecnológicos estão
permitindo a implementação bem sucedida dessa infra-estrutura global. O
fato de o aumento da capacidade de transmissão de dados crescer muito
mais rápido que o poder computacional leva naturalmente em direção à
arquitetura de Grid. Isto faz com que seja conveniente utilizar recursos
computacionais e de armazenamento de dados geograficamente distantes,
fazendo uso de uma transmissão de dados que no futuro será cada vez mais
rápida. Dessa forma passa a ser mais eficiente utilizar programas ou
bancos de dados que estejam instalados ou disponíveis remotamente do que
executá-los localmente.
Atualmente, o Grid tem
tomado um caráter global com colaborações sendo estabelecidas entre os
Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina. O interesse tem-se
expandido para além da Ciência da Computação e do meio acadêmico e vem
chamado a atenção de um número cada vez maior de segmentos da sociedade.
Mais informaes
[1] I. Foster, C.
Kesselman, eds., The Grid: Blueprint for a New Computing
Infrastructure, Morgan Kaufmann (1999); F. Berman, G. Fox, T. Hey,
eds., Grid Computing: Making The Global Infrastructure a Reality,
John Wiley (2003); S.F. Novaes, E.M. Gregores, Da Internet ao Grid:
A Globalização do Processamento, Editora da UNESP (no prelo).
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