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[] Desenvolvimento e Energia [J. Goldemberg]

Desenvolvimento e Energia
José Goldemberg

Universidade de São Paulo, São Paulo, SP

Secretaria de Estado do Meio Ambiente, São Paulo, SP

Apesar de energia ser uma entidade física bem compreendida e quantitativamente definida, o conceito de desenvolvimento é menos bem definido e há percepções diferentes sobre seu significado real. O Banco Mundial usualmente mede o desenvolvimento pelo Produto Nacional Bruto (PNB) e as nações são classificadas em categorias, de acordo com seu PNB "per capita". Em dólares de 1999, uma renda é considerada alta se estiver acima de US$ 9.266/ano; uma renda média fica entre US$ 756 e US$ 9.265 e uma renda baixa abaixo de US$ 755.

A "monetarização" do conceito de desenvolvimento não é aceita por muitos, particularmente em países em desenvolvimento, onde a renda "per capita" varia dramaticamente entre pobres e ricos. Ela é mais bem aceita nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), onde há uma ampla classe média e as variações na renda não são muito significativas.

Os pobres em países em desenvolvimento, que representam 70% da população mundial, aspiram todos a uma "vida melhor", o que significa empregos, alimentação, serviços de saúde, moradia (rural ou urbana), educação, transporte, água corrente, tratamento de esgotos, serviços de comunicação, segurança de suprimento de energia e um meio ambiente sadio. Essas necessidades são normalmente medidas, em países industrializados, por transações monetárias, mas esse não é necessariamente o caso em muitos outros. Clima e recursos naturais abundantes podem levar a uma melhor qualidade de vida sem grandes recursos monetários. Em alguns países, os valores culturais são tais que alguns serviços são menos desejáveis do que em outros. Em outros, o sistema político privilegia certas soluções em detrimento de outras que têm custo muito menor. Desta forma, comparar estágios de desenvolvimento apenas pelo PNB "per capita" pode ser bastante enganoso.

A energia, em suas várias formas (mecânica, química, elétrica, térmica, e de radiação eletromagnética) é essencial para todas as aspirações e serviços listados acima e, assim, intimamente ligada a uma série de questões sociais. Por outro lado, a qualidade e quantidade dos serviços de energia, e como são supridos, têm um efeito sobre as questões sociais.

As necessidades energéticas do homem acompanham a evolução da civilização. De um consumo diário muito baixo de energia, cerca de 2000 kcal por dia, que caracterizava o homem primitivo, o consumo de energia aumentou em 1 milhão de anos para 230.000 kcal por dia.

Os estágios do desenvolvimento humano, do homem primitivo (1 milhão de anos atrás) ao homem tecnológico de hoje, podem ser grosseiramente relacionados ao consumo de energia (Figura 1) da seguinte forma:

    1. Homem primitivo (Leste da África, aproximadamente há um milhão de anos), sem o uso do fogo, contava somente com a energia dos alimentos que consumia (2000 kcal/dia).

    2.  
    3. Homem caçador (Europa, aproximadamente há 100.000 anos) contava com mais alimentos e também queimava madeira para aquecimento e para cozinhar.
       
    4. Homem primitivo agricultor (Oriente Médio no ano 5000 a.C.) cultivava a terra e utilizava energia animal.

    5.  
    6. Homem agricultor avançado (Nordeste da Europa, no ano 1400 d.C.) tinha carvão para aquecimento, energia hidráulica, energia eólica e transporte animal.

    7.  
    8. Homem industrial (Inglaterra, em 1875) tinha o motor a vapor.

    9.  
    10. Homem tecnológico (Estados Unidos, em 1970) consumia 230.000 kcal/dia.

Figure 1. Estágios de desenvolvimento e consumo de energia.

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