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Raios Cósmicos com Energias Macroscópicas [C.O.
Escobar]
Raios Cósmicos com Energias
Macroscópicas
Carlos O. Escobar
Instituto de FÃsica Gleb Wataghin,
Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, SP
Imagine uma lâmpada de apenas 5 watt, ligeiramente azulada, a vinte
quilômetros de distância, percorrendo o céu com a velocidade da luz numa
noite sem Lua, tendo como fundo a mirÃade de estrelas da Via Láctea.
Enxergar uma luz tão fraca como esta é um dos desafios que um grupo de
centenas de cientistas de 18 paÃses está enfrentando hoje na região
semi-desértica da Pampa Amarela, na provÃncia de Mendoza ao sul da
Argentina. A fraca luz é produzida por um fenômeno natural, ainda que
raro, e ocorre sempre que raios cósmicos de altas energias colidem no
topo da atmosfera provocando o chamado chuveiro atmosférico extenso, que
consiste de bilhões de partÃculas secundárias, as quais, ao percorrerem
a atmosfera, produzem essa fraca luminosidade. O que pretendem
investigar esses cientistas usando essa técnica tão delicada e sensÃvel?
Qual seria o enigma cientÃfico que se revelaria de maneira tão sutil?
A
comunidade internacional de raios cósmicos está hoje esperando
ansiosamente que os primeiros dados do Observatório Pierre Auger [1]
sejam divulgados e que com eles seja dado um passo decisivo para
desvendarmos o mistério dos raios cósmicos com energias macroscópicas.
Embora tenham sido descobertos na segunda década do século XX, os raios
cósmicos continuam a desafiar a compreensão de fÃsicos e astrofÃsicos.
Muito aprendemos desde então, sabendo hoje que o Universo está coalhado
de verdadeiros aceleradores cósmicos, que são capazes de acelerar
prótons e núcleos atômicos até energias milhares de vezes superiores
à quelas atingidas nos maiores aceleradores de partÃculas construÃdos
pelo ser humano, tais como os hoje existentes no Fermi National
Accelerator Laboratory (Fermilab) nos EUA, e no CERN, laboratório
europeu.
Esses
prótons e núcleos adquirem essas energias através de múltiplas colisões
com imensas nuvens magnéticas que podem ser criadas nas ondas de choque
resultantes de grandes explosões de supernovas, as quais ocorrem, com
uma freqüência bastante elevada, em uma galáxia comum como a nossa:
cerca de uma explosão de supernova a cada 30 anos! Esses aceleradores
cósmicos foram propostos por Enrico Fermi [2], em 1949, e acredita-se
sejam eles responsáveis pela grande maioria dos raios cósmicos que
incidem incessantemente sobre a Terra. O grande mistério é que, no afã
de investigar o espectro de energia dos raios cósmicos, os cientistas
não cessam de se surpreender com o fato de que a fronteira de altas
energias está constantemente deslocando-se: nos anos 40, as energias
observadas nos raios cósmicos atingiam valores até então inacessÃveis
aos aceleradores terrestres. Em 1962, o fÃsico norte-americano John
Linsley relatou [3], em um artigo publicado no Physical Review
Letters, ter observado um evento com energia igual a 16 joule! Isto
significa que uma única partÃcula subatômica, um próton, carrega uma
energia equivalente, por exemplo, à de uma bola de tênis no saque de um
tenista profissional!
Mais informações
[1] Ver, para mais
informações o URL: www.auger.org .
[2] E. Fermi, Phys. Rev. , 1169 (1949).
[3] J. Linsley, Phys. Rev. Lett , 146 (1963).
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