|
[] A Condensação de Bose-Einstein no IFSC-USP [K.M.F.
Magalhães; E.A.L. Henn; R.R. Silva; S.R. Muniz; L.G. Marcassa; V.S. Bagnato]
A Condensação de Bose-Einstein
Kilvia M.F. Magalhães; Emanuel A.L. Henn; Reginaldo R. Silva;
Sergio R. Muniz; Luis G. Marcassa; Vanderlei S.
Bagnato
Instituto de FÃsica de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, SP
Poder explicar o mundo macroscópico, a partir
do entendimento de seus constituintes
microscópicos, sempre foi de grande interesse para a FÃsica. Assim, um dos
grandes sucessos da ciência foi o estabelecimento da atomÃstica. Partindo da
hipótese de que tudo é constituÃdo de entidades de tamanho extremamente pequeno,
chamadas de átomos, fomos capazes de explicar várias das propriedades do
mundo macroscópico. Historicamente, a explicação das propriedades de um gás,
como pressão e temperatura, bem como volume, foi o primeiro grande sucesso em
termos de conectar o mundo microscópico com o mundo macroscópico.
À medida que
os estudos nessa área foram se aprofundando, foi descoberto que, no seu Ãntimo
micromundo, a matéria tem um comportamento distinto daquele que nosso cotidiano
nos permite inferir. Quando descemos às dimensões tão pequenas quanto o átomo, a
matéria tem o chamado comportamento quântico, onde ondas são entidades que
melhor descrevem a matéria em vez de corpúsculos massivos. As leis gerais são,
portanto diferentes das leis tradicionais da mecânica e encaixam-se dentro de
outro escopo, o da mecânica quântica. Normalmente, é difÃcil observar no mundo
macroscópico do dia-a-dia as evidências quânticas do Ãntimo da matéria.
Em
laboratório, as manifestações macroscópicas de certos efeitos quânticos são
sempre surpreendentes e acabam revelando efeitos inesperados, como é o caso da
superfluidez do Hélio, a supercondutividade, efeito Hall quântico e outros.
Dentro desta classe de efeitos, a condensação de Bose-Einstein (CBE) em gases a
baixas densidades é um efeito interessante, que somente foi observado muito
recentemente [1,2,3] graças ao advento e avanço das modernas técnicas para
resfriar e confinar átomos neutros [4,5,6]. Observações deste tipo devem revelar
propriedades do sistema que nos possibilite entender importantes detalhes de
sistemas quânticos degenerados, quem sabe fornecendo evidências para um melhor
entendimento do comportamento da superfluidez, dentre outros efeitos similares.
A condensação
de Bose-Einstein foi inicialmente prevista por Albert Einstein, em 1925, usando
para isso as bases teóricas contidas no trabalho do cientista Nath Bose [1].
Quando um gás
é resfriado a temperaturas muito baixas, é possÃvel atingir a condensação de
Bose-Einstein. Neste regime, o comportamento do sistema deixa de ser clássico e
a visão tradicional que temos de um gás como sendo constituÃdo de partÃculas
animadas de um movimento desordenado não mais se sustenta. Isso acontece se as
partÃculas do gás forem do tipo bósons.
Para
entendermos as bases da CBE, é preciso primeiro saber que, pela mecânica
quântica, os constituintes de um gás confinado não apresentam um espectro de
energia contÃnuo, mas somente valores discretos são possÃveis. As partÃculas que
constituem esse sistema apresentam-se estatisticamente distribuÃdas por esses
estados de energia, e todas as propriedades do sistema advêm da contribuição
estatÃstica dessas várias partÃculas contidas nos vários estados de energia.
Nenhum dos estados se apresenta ocupado com um número macroscópico de partÃculas,
de modo que nenhum dos estados contribui diferentemente para as propriedades
termodinâmicas do sistema, além daquela que advém de seu peso estatÃstico.
Como observado por
Einstein, um gás constituÃdo por bósons poderia, em ultra-baixas temperaturas,
apresentar uma população macroscópica no seu estado de mais baixa energia
(número este da ordem do número total de partÃculas do sistema). Neste ponto, as
partÃculas nesse especÃfico estado contribuÃram para as propriedades do gás de
uma forma diferente das demais, com um “peso” maior. Isto causa uma mudança de
comportamento com relação às propriedades termodinâmicas (como pressão,
viscosidade, condutividade térmica, etc.), que normalmente caracterizam a
transição de fase fÃsica. Neste contexto, a CBE leva o sistema para uma nova
“fase” com propriedades bastante peculiares.
Mais informações
[1]
M.H. Anderson, J.R. Ensher, M.R. Matthews, C.E. Wieman, E.A. Cornell, Science
, 198–201 (1995).
[2]
C.C. Bradley, C.A. Sackett, J.J. Tollett, R. G. Hulet, Phys. Rev. Lett. ,
1687–1690 (1995); , 1170 (1997).
[3]
K.B. Davis, M.-O. Mewes, M.R. Andrews, N.J. van Druten, D.S. Durfee, D.M. Kurn,
W. Ketterle, Phys. Rev. Lett. , 3969–3973 (1995).
[4]
N.R. Newbury, C. Wieman, Am. J. Phys. , 18–20 (1996).
[5]
W. Ketterle, N.J. Van Druten, Adv. At. Mol. Opt. Phys. , 181–236 (1996).
[6]
M.-O. Mewes, M.R. Andrews, N.J. van Druten, D.M. Kurn, D.S. Durfee, W. Ketterle,
Phys. Rev. Lett. , 416–419 (1996).
[7]
A. Einstein, “Quantentheorie des einatomigen edealen Gases”, Sitzungsberichte
der Preussischen Akadeie der Wissenshaften 261 (1924); A. Einstein,
“Quantentheorie des einatomigen edealen Gases II”, Sitzungsberichte der
Preussischen Akadeie der Wissenshaften I, 3–14 (1925). |
|